RESUMO DA OBRA
Pierre Levy, filósofo e professor do Departamento de Hypermedia da Universidade de Paris VIII, desconstroi a problemática do virtual. Em seu livro “O que é virtual?” [ ed.34, 1996], Levy aborda, de forma bastante abrangente, as conseqüências que a virtualização gera na sociedade moderna.Através de uma abordagem conceitual, mas ao mesmo tempo contextualizada e reflexiva, o autor desmistifica uma série de convenções, dentre elas o conceito de virtual. Segundo Lévy, virtual não é o contrário de real, mas sim tudo aquilo que tem potencialidade para se concretizar.
No primeiro capítulo, em que fala sobre a definição de virtualização, o virtual existe como potência, não é, portanto, um conceito oposto ao real, mas é oposto ao conceito atual. A atualização e a virtualização são dois conceitos diferentes. A atualização é uma solução de um determinado problema, um resultado de fatores que se conjugam e originam uma solução. Pierre Lévy define a atualização como “uma criação, invenção de uma forma a partir de uma configuração dinâmica de forças e de finalidades.” A virtualização é oposta à atualização pois não se trata de uma solução, mas sim uma “mutação de entidade”, uma deslocação da entidade no espaço
Pierre Lévy descreve um exemplo no livro “O que é o Virtual?”: o caso das empresas virtuais. Uma empresa organizada classicamente dispõe os seus trabalhadores num espaço determinado. Já uma empresa virtual abre as portas ao teletrabalho. Estas empresas virtuais criaram um problema que deriva da forma como são organizadas. Nas empresas clássicas existiu uma atualização, ou seja, de um problema passou-se a uma solução: organizar uma empresa através de critérios clássicos: horários estabelecidos, postos de trabalho físicos. A virtualização das empresas veio criar um problema (ruptura com as regras tradicionais) que advém da solução (regras tradicionais) encontrada pelas empresas clássicas. Conclui-se, portanto, que a virtualização não se opõe ao real, mas é um fator que origina novas realidades particulares. Consegue trazer à organização da sociedade uma maior liberdade. A maior liberdade concretiza-se no espaço, ou seja, a empresa deixa de ter um lugar físico preciso..
Quer as empresas, como os textos, os corpos, a arte, a economia estão a transformar-se e como Miguel Serres no livro Atlas escreve, a virtualização é como um “para lá de algo.” Estar “lá”, naquele espaço significa existir, no entanto, a virtualização comprova que o fato de não estar lá não significa necessariamente que não exista. Uma comunidade virtual move-se por um conjunto de interesses, amizades, rivalidades, ou pelos mesmos problemas. Esta comunidade está “para além de algo” pois não existe em lugar nenhum lugar específico no espaço. O espaço onde tudo se desenrola é virtual. Trata-se de uma nova cultura virtual, uma cultura nómade, que se move no virtual onde os assuntos surgem com um “mínimo de inércia.” Nesta nova comunidade “a sincronização substitui a unidade do espaço, a interconexão substitui a unidade do tempo,” tudo o que era real muda de identidade para o virtual.
Existe um novo espaço e uma nova velocidade na virtualização. Pierre Lévy explica em primeiro lugar que todos os seres vivos inventam o seu tempo e o seu espaço específico. Mesmo no caso do Homem, o tempo e o espaço varia consoante a cultura e o conhecimento de cada humano. Lévy escreve o exemplo do trem que foi o primeiro meio de comunicação/transporte que mais encurtou distâncias no mundo e que possibilitou conexões entre algumas cidades e outras não.
Outra questão, abordada por Levy , é o “efeito Moebius” que declina-se em vários registros: o das relações entre o privado e público, próprio e comum. Subjetivo e objetivo, mapa e território, autor e leitor etc. Retrata este aspecto: “ a passagem do interior ao exterior, e do exterior ao interior”. Um exemplo que foi citado anteriormente, são as diferenças das empresas clássicas e as virtuais, porque o primeiro tem sua mesa de trabalho, já o segundo compartilha um certo números de recursos imobiliários, mobiliários e programas com outros empregados. É como se as empresas clássicas passasse do espaço privado para o público no lugar de trabalho e nas empresas virtuais, o teletrabalhador transforma o seu espaço privado em público e vice-versa.
No segundo capitulo, Levy aborda a virtualização do corpo em vários aspectos como: reconstruções , percepções, projeções, reviravoltas, hiperpercorpo, intensificações e resplandecência.
No aspecto das reconstruções, pode-se usar às técnicas da comunicação e de telepresença. Os equipamentos de visualização médicos tornam transparente nossa interioridade orgânica. Os exertos e as próteses nos misturam aos outros artefatos. Essas situações, segundo Levy, são inventadas atualmente cem maneiras de construir e de remodular o nosso corpo: dietética, body building, cirurgia plástica. Alteramos nossos metabolismos individuais por meio de drogas ou medicamentos, espécies de agentes fisiológicos transcorporais ou de secreções coletivas... e a indústria famacêutica descobre regularmente novas moléculas ativas.
A percepção, cujo o papel o mundo é aqui. E a projeção da ação está evidentemente ligada às máquinas, às redes de transporte, aos circuitos de produção e de transferência da energia, às armas. A projeção da imagem do corpo é geralmente associada à noção da telepresença. Mas a telepresença é sempre mais simples projeção da imagem. Um exemplo, é o telefone, que funciona um dispositivo de telepresença, uma vez que não leva apenas uma imagem ou uma representação da voz; transporta a própria voz. O telefone separa a voz do corpo tangível e a transmite à distância. Meu corpo tangível está aqui, meu corpo sonoro , desdobrado, está aqui e lá.
As reviravoltas, as imagens médicas nos permitem ver o interior do corpo sem precisar ferir o ser humano. Alguns aparelhos usados na medicina são usados apenas para ver a superfície do corpo. Para Pierre, algumas membranas virtuais, podem ser reconstruídos modelos digitais do corpo em três dimensões e, a partir daí, maquetes sólidas que ajudarão os médicos, por exemplo, a preparar uma operação. Pois todas essas peles, todos esses corpos virtuais têm efeitos de atualização muito importantes no diagnóstico médico e na cirurgia.
No hipercorpo, é retratado, os transpantes criam uma grande circulação de órgãos entre os corpos humanos. Atualmente, os olhos( as córneas), o esperma , os óvulos, os embriões e sobretudo o sangue são agora socializados, mutualizados e preservados em bancos especiais. Um sangue desterritorizado ocorre de corpo em corpo através de uma rede internacional da qual não se pode mais distinguir os componentes econômicos, tecnológicos e médicos. O fluído vermelho da vida irriga um corpo coletivo, sem forma, disperso.
Nas intensificações, fala que atualmente a prática esportiva está virtualizando o nosso corpo. Ou seja, do nosso corpo ultrapassar limites, de conquistar novos meios, de intensificar novas sensações, de explorar outras velocidades que se manifestam numa exploração esportiva específica de nossa época.
No aspecto da resplandecência, o corpo sai de si mesmo, adquire novas velocidades, conquistas novos espaços. Verte-se no exterior e reverte a exterioridade técnica ou alteridade biológica em subjetividade concreta. Ao se virtualizar, o corpo se multiplica. Nesse caso, a virtualização do corpo não é portanto uma desencarnação mas uma reinvenção, uma reencarnação, uma multiplicação, uma vetorização, uma heterogênese do humano.
No terceiro capítulo, Pierre Levy fala sobre a virtualização do texto. Inicialmente, o autor fala que o texto desde as suas origens mesopotânias é um objeto virtual, abstrato, independente de um suporte específico. Essa entidade virtual atualiza-se em múltiplas versões, traduções, exemplares e cópias.Ao interpretar, ao dar sentido ao texto aqui e agora, o leitor leva adiante essa cascata de atualizações. Falo especificamente de atualização no que diz respeito à leitura, e não realização, que seria uma seleção ente possibilidades preestabelecidas. Face à configuração de estímulos, de coerções e de tensões que o texto propõe, a leitura resolve de maneira inventiva e sempre singular o problema do sentido. A inteligência do leitor levanta por cima das páginas vazias uma paisagem semântica móvel e acidentada.
Ao mesmo tempo que rasgamos pela leitura ou pela escuta, amarrotamos o texto. O texto é costurado junto ao leitor e reencontrando os gestos têxteis que lhe deram seu nome.
As passagens do texto mantém entre si virtualmente uma correspondência, quase que uma atividade epistolar, que atualizamos de um jeito ou de outro, seguindo as instruções do autor ou não. È possível desobedecer as instruções do autor, tomar caminhos transversais, produzir dobras interditas, estabelecer redes secretas, clandestinas, fazer emergir outras geografias semânticas.
No entanto, o hipertexto hierarquiza e seleciona áreas de sentido, tecer ligações entre essas zonas, conectar o texto a outros documentos, arrumá-lo a toda uma memória que forma como que o fundo sobre o qual ele se destaca e ao qual remete, são outras tantas funções do hipertexto informático.
O aparecimento da escrita acelerou um processo de artificialização, de exteriorização e de virtualização da memória que certamente começou com a himinização. Virtualização e não simples pronlogamento; ou seja, separação parcial de corpo vivo, colocação em comum, heterogênese. Não se pode reduzir a escrita a um registro a fala. Em contrapartida, ao nos fazer conceber a lembrança como um registro, ela transformou o rosto de Mnemósine.
O leitor de um livro ou de um artigo no papel se confronta com um objeto físico sobre o qual uma certa versão do texto está integralmente manifesta. Certamente ele pode anotar nas margens, fotocopiar, recortar, colar, proceder a montagens, mas o texto inicial está lá, preto no branco, já realizado integralmente. Na leitura em tela, essa presença extensiva e preliminar à leitura desaparece. O suporte digital (disquete, disco rígido, disco ótico) não contém um texto legível por humanos mas uma série de códigos informáticos que serão eventualmente traduzidos por um computador em sinais alfabéticos para um dispositivo de apresentação. A tela representa-se então como uma janela a partir da qual o leitor explora uma reserva potencial.
No quarto capítulo, a virtualização da economia, Pierre relata inicialmente que o principal setor mundial em volume de negócios, é o turismo: viagens, hotéis, restaurantes. Temos ainda também, o das indústrias que fabricamos veículos ( carros , caminhões, trens, metrôs, barcos, aviões etc), carburantes para veículos e infraestruturas ( estradas, aeroportos ...), chegaremos a cerca de metade da atividade econômica mundial a serviço de transporte. O comércio e a distribuição, por sua vez, fazem viajar signos e coisas. Os meios de comunicação eletrônicos e digitais não substituíram o transporte físico, muito pelo contrário: comunicação e transporte, como já sublinhamos, fazem parte da mesma onda da virtualização geral. Pois ao setor da deteriorização física, cumpre evidentemente acrescentar as telecomunicações, a informática, os meios de comunicação, que são outros setores ascendentes da economia do virtual. O ensino e a formação, bem como as indústrias da diversão, trabalhando para a heterogênese dos espíritos, não produzem outra coisa senão o virtual. Quanto ao poderoso setor de saúde, medicina e farmácia, virtualiza os corpos.
O setor financeiro é, coração pulsante da economia mundial, é sem dúvida uma das atividades mais características da escalada da virtualização.
A moeda é a base das finanças, dessincronizou e deslocalizou em grande escala o trabalho, a transação comercial e o consumo, que por muito tempo intervieram nas mesmas unidades de tempo e lugar. E enquanto objeto virtual, a moeda é evidentemente mais fácil de trocar, de partilhar e de existir em comum que entidades mais concretas como terras ou serviços.
Uma outra questão, são as finanças internacionais que desenvolvem-se em estrita simbiose com as redes e as tecnologias de suporte digital. Elas tendem a uma espécie de inteligência coletiva distribuída para a qual o dinheiro e a informação progressivamente se equivalem.
Os bens materiais são considerados aqueles que por suas formas, estruturas, suas propriedades em contexto, ou seja, em fim de contas, por sua dimensão “imaterial”. Precisamente: o conhecimento e a informação não são “imaterial” e sim desterritorizados; longe de estarem exclusivamente presos a um suporte privilegiado, a eles podem viajar. A alternativa do material e do imaterial vale a pena para substâncias, coisas, ao passo que a informação e o conhecimento são da ordem do acontecimento ou do processo.
Os bens cujo consumo é destrutivo e apropriação é exclusiva são reservatórios de possibilidades, “potenciais”. São consumos ( comer o trigo, conduzir o carro) equivale a uma realização, isto é, a uma escolha exclusiva e irreversível entre os possíveis, a uma “queda de potencial”.
O mercado on line não conhece as distâncias geográficas. Todos os seus pontos estão em princípio igualmente “próximos” um dos outros para o comprador potencial (telecompra). O consumo e a demanda nele são captados e perseguidos em seus menores detalhes. Por outro lado, os serviços de orientação e de visibilização das ofertas se multiplicam. Em suma, o cibermercado é mais transparente que o mercado clássico. Em princípio, essa transparência deveria beneficiar os consumidores, os pequenos produtores e acelerar a desterritoriazação da economia.
No capítulo cinco, “as três virtualizações que fizeram o humano: a linguagem, a técnica e o contrato”. Na linguagem, em primeiro lugar, virtualiza um “tempo real” que mantém aquilo que está vivo prisioneiro do aqui e agora. Com isso, ela inaugura o passado, o futuro e, no geral, o Tempo como o um reino em si, uma extensão provida de sua própria consistência. A partir da invenção da linguagem, nós humanos, passamos a habitar um espaço virtual, o fluxo temporal tomado como um todo, que o imediato presente atualiza apenas parcialmente, fugazmente.
A técnica, é um processo de materialização. Entretanto, a dinâmica da técnica se alimenta de seus próprios produtos, opera combinações transversais, riziomáticos, e conduz finalmente a máquinas, a arranjos complexos muito afastados de funções corporais simples. Um barco a vela, um moinho movido à água, um relógio ou uma central nuclear virtualizam funções motoras, cognitivas ou termostáricas, mas não podem ser compreendidos de forma individual e sim reintegrados ou interiorizados de volta na escala de megamáquinas sociais híbridas ou de hipercorpos coletivos.
A técnica nãovirtualiza apenas os corpos e as ações, mas também as coisas. Antes que os seres humanos houvessem aprendido a entrechocar pedras de sílex acima de uma pequena acendalha, eles só aconteciam o fogo presente ou ausente. Depois da invenção das técnicas de acendimento, o fogo também pode ser virtual. Ele é virtual onde quer que haja fósforos. A presença ou ausência do fogo era um fato com o qual se era obrigado a contar, agora é uma eventualidade aberta. Uma coerção foi transformada em variável.
No terceiro processo de virtualização, ou seja, o contrato, que cresce com a complexidade das relações sociais: para designá-lo da maneira mais sintética possível, diremos que se trata da virtualização da violência
Os rituais, as religiões, as morais, as leis, as normas econômicas ou políticas são dispositivos para virtualizar os relacionamentos fundados sobre as relações de forças, as pulsões, os instintos ou os desejos imediatos. Uma convenção ou um contrato, para tomar um exemplo privilegiados, tornam a definição de um relacionamento independente de uma situação particular; independente , em princípio, das variações emocionais daqueles que o contrato envolve; independente da flutuação das relações de força.
Uma lei envolve uma quantidade indefinida de detalhes virtuais dos quais somente um pequeno número é explicitamente previsto em seu texto. Numa dada sociedade, um ritual (por exemplo, um casamento ou uma cerimônia de iniciação) aplica uma variedade indefinida de pessoas. A mudança de estatuto ( “ a partir de agora, sois casados”, “ agora, sois adulto”) é automática e idêntica para todos. Não somos obrigados a reinventar e negociar algo de novo em cada situação particular. Os exemplos da iniciação, do casamento ou da venda mostram que a virtualização dos relacionamentos e dos impulsos imediatos, ao mesmo tempo que estabiliza os comportamentos e as identidades, também fixa procedimentos precisos para transformar os relacionamentos e os estatutos pessoais.
Na esfera das relações sociais, pode-se organizar o movimento ou a desterritorialização de relacionamentos virtualizados. Um título de propriedade, ações de uma companhia ou um contrato de seguro se vendem e se transmitem. Um reconhecimento de dívida, uma letra de câmbio ou uma obrigação, que na origem diziam respeito a apenas duas partes, podem circular entre um número indefinido de pessoas. Pode-se do mesmo modo eleger um porta-voz, ensinar uma oração ou comprar um feitiche.
Relacionamentos virtuais coagulados, como é o caso dos contratos, são entidades públicas e compartilhadas no seio de uma sociedade. Novos procedimentos, novas regras de comportamento se articulam sobre as precedentes. Um processo contínuo de virtualização de relacionamentos forma aos poucos a complexidade das culturas humanas: religião, ética, direito, política, economia. A concórdia talvez não seja um estado natural, uma vez que, para os humanos, a construção social passa pela virtualização.
No sexto capítulo, que fala sobre “ as operações da virtualização ou o trívio antropológico”, Levy inicia falando dos trívio dos signos , na qual aborda a linguagem. Compreende a gramática (saber ler e escrever corretamente), a dialética (saber raciocinar) e retórica ( saber compor discursos e convencer). Estabelecemos a hipótese de que cada uma das três “vias” envolve operações quase sempre empregadas nos processos de virtualização.
Em primeiro lugar a gramática. A partir do continuum dos sons, uma língua isola ou separa fonemas, espécies de elementos primários não significantes. As unidades significantes ( palavras, frases ou “falas”) apresentam-se à análise como seqüências de elementos desprovidos de sentido neles mesmos (os fonemas). Cada combinação de elementos terá sentido diferente e os elementos adquirem um valor distinto em cada combinação. A gramática é a arte de compor pequenas unidades significantes com elementos não significantes e grandes unidades significantes ( frases, discursos) com pequenas. Notemos que as operações “gramaticais” de separação e de arranjo de elementos não dizem respeito apenas à língua mais à escrita, inclusive às escritas não alfabéticas.
Depois da gramática, a dialética. Inicialmente, a arte do diálogo, a dialética passou a designar a ciência da argumentação e , na universidade medieval, a lógica e a semântica. A gramática dizia à respeito à articulação da língua, a manipulação das ferramentas lingüísticas e escriturais. A dialética, em troca, estabelece uma relação de reciprocidade entre os interlocutores, pois não há esforço argumentativo que não subentenda uma espécie de paridade intelectual. Com isso, a dialética conecta um sistema de signos e um mundo objetivo, colocado pelos interlocutores em posição de mediador. A dialética implica também ao mesmo tempo o relacionamento com o outro( argumentação) e a relação com o “exterior” ( a semântica, a referência).
Enfim, a retórica designa a arte de agir sobre os outros e o mundo com o auxílio dos signos. No estágio retórico ou pragmático, não se trata mais apenas de representar o estado das cosas, mais igualmente de transformá-lo, e mesmo de criar inteiramente uma realidade saída da linguagem: ou seja, em termos rigorosos em mundo virtual: o da arte, da ficção, da cultura, do universo mental humano.
No trívio das coisas, para a técnica, a gramática consiste no recorte de gestos elementares que poderão ser empregados em diversas seqüências, ou ações em situação. A gramática técnica não diz respeito apenas aos gestos, mas também a módulos materiais elementares que podem ser combinados para compor gamas de artefatos ou de ferramentas. O sentido de um artefato ou de uma ferramenta é o dispositivo que seríamos obrigados a empregar para obter o resultado se ele não tivesse sido inventado. O objeto técnico não apenas cumpre, como o signo, uma função de substituição, como também opera, além disso, o mesmo tipo de abstração.
No trívio dos seres, tem a ver com a complexidade dos relacionamentos que tem a ver com o trívio antropológico generalizado. Na etapa gramatical, foi preciso identificar e separar elementos capazes de entrar em composição nos arranjos contratuais, legais, sociais, políticos, morais ou religiosos. Esses elementos recombináveis, são tão convencionais e não- significantes quanto aos fonemas: sentimentos, paixões, átomos de relacionamentos, de gestos, partes da alma, sujeitos, pessoas, eis ai outros tantos tijolos de base para os comportamentos, os relacionamentos e as identidades sociais.
No sétimo capítulo, “a virtualização da inteligência e a constituição do sujeito”, o autor fala sobre o objeto como conclusão da virtualização. Nós, seres humanos, jamais pensamos sozinhos ou sem ferramentas. As instituições, as línguas, os sistemas de signos, as técnicas de comunicação, de representação e de registro informam profundamente nossas atividades cognitivas: toda uma sociedade cosmopolita pensa dentro de nós. Por esse motivo, não obstante a permanência das estruturas neuronais de base, o pensamento é profundamente histórico, datado e situado, não apenas em seu propósito mas também em seus procedimentos e modos de ação.
Pode-se definir a inteligência coletiva como uma inteligência artificial como um mobilizador do desenvolvimento das tecnologias digitais, e faz reorientação das ciências ,cognitivas da filosofia do espírito e da antropologia para as questões da ecologia ou da economia da inteligência.
No oitavo capítulo Lévy termina a sua teoria do virtual indicando que existe um objeto que potencia a virtualização: o ciberespaço. “É um objeto comum, dinâmico, construído, (ou, pelo menos, alimentado) por todos aqueles que o usam. Adquiriu este caráter de “não separação” por ter sido fabricado, aumentado, melhorado pelos informáticos que foram, inicialmente, os seus principais utilizadores. Ela é uma ponte entre o objeto comum dos seus produtores e dos seus exploradores.” É no ciberespaço que a virtualização se dá com mais intensidade e se torna mais visível à dialética.
No último capítulo, “ O quadrivium ontológico, Pierre Lévy deixa um quadro elucidativo de toda a base da sua teoria. Existem as substâncias por um lado. O potencial (pólo do latente), conjunto de possíveis predeterminados realiza-se no real (pólo do manifesto), nas coisas persistentes. Por outro lado existem os acontecimentos.
O aqui e agora e a sua mudança de identidade para um ciberespaço onde tudo é possível e atualizável. A existência não se coloca em causa, apesar de não haver substância: trata-se de uma ocorrência. Pierre Lévy confessa no epílogo que ainda tentava entrar no virtual e com ironia acaba o livro com um: “Bem-vindos ao caminho do virtual!” Lévy mostra a quem lê o seu livro um novo caminho para a descoberta do virtual. Dá uma imagem positiva do conceito e acima de tudo retira a idéia asfixiante e negativa que paira sobre o virtual. Transforma o virtual num conceito com uma carga axiológica neutra e liberta o ciberespaço para a criação livre e heterogênea.
CRÍTICA DA RESENHISTA
Antes de começar a falar sobre a minha percepção do livro “O que é virtual” de Pierre Levy que são várias eu gostaria de expor uma história interessante e reflexiva abaixo:
Entro apressada e com muita fome na confeitaria. Escolho uma mesa bem afastada do movimento, pois quero aproveitar a folga para comer e passar um e-mail urgente para meu editor.
Peço uma porção de fritas, um sanduíche de rosbife e um suco de laranja.
Abro o lap-top. Levo um susto com aquela voz baixinha atrás de mim.
- Tia, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você.
- Minha caixa de entrada está lotada de e-mails. Fico distraída vendo as poesias, as formatações lindas. Ah! Essa música me leva a Londres.
- Tia, pede para colocar margarina e queijo também.
Percebo que o menino tinha ficado ali.
- Ok. Vou pedir, mas depois me deixa trabalhar, estou ocupadíssima.
Chega minha refeição e junto com ela meu constrangimento.
Faço o pedido do guri, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir "a luta ".
Meus resquícios de consciência, me impedem de dizer.
Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pedido do menino.
- Tia, você tem Internet?
- Tenho sim, essencial ao mundo de hoje.
- O que é Internet?
- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar. Tem de tudo no um mundo virtual.
- E o que é virtual?
Resolvo dar uma explicação simplificada, na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha deliciosa refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que ele fosse.
- Legal isso. Adoro!
- Menino, você entendeu que é virtual?
- Sim, também vivo neste mundo virtual.
- Nossa! Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito ....Virtual.
- Minha mãe trabalha, fica o dia todo fora, só chega muito tarde, quase não a vejo, eu fico cuidando do meu irmão pequeno que chora de fome e eu dou água para ele imaginar que é sopa, minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas não entendo pois ela sempre volta com o corpo, meu pai está na cadeia há muito tempo, mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos, ceia de natal e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isso é virtual não é tia???
- Fechei meu lap top, não antes que lágrimas caíssem sobre o teclado. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e não percebemos!!!
OBS: que esta pergunta sirva para uma profunda reflexão em nossas vidas.
FAÇA A SUA PARTE. NÃO VIVA UM MUNDO VIRTUAL MAS SIM NUM MUNDO NATURAL EM QUE VOCÊ SÓ É O PARTICIPANTE QUE FAZ A DIFERENÇA.
Que conclusão pode-se esperar com esse texto? Será que o virtual não pode ser real em nossas vidas? O que podemos fazer para que possamos concretizar essa situação? São várias perguntas que realmente fica difícil responder e ter soluções. Fiz essa provocação, para escrever a minha percepção sobre o livro de Pierre Levy, que tem tudo a ver com o texto escrito acima.
Para algumas pessoas e autores o virtual popularmente é tudo aquilo que diz respeito às comunicações via Internet. Nesse sentido, a Wikipedia poderia ser chamada de uma "enciclopédia virtual", embora essa acepção da palavra seja imprópria porque "virtual" implica o conceito de uma simulação, o que nem sempre é verdade. Em muitos casos de expressões como "amigo virtual" ou "universidade virtual" o adjetivo "remoto" ou "à distância" se encaixaria com mais propriedade.
Pode-se ter uma idéia melhor sobre o termo "virtual" e suas implicações lançando, mão da Semiótica peirceana, que estuda o relacionamento dos fenômenos do universo.
O que eu posso primeiramente dizer é sobre as empresas e as comunidades virtuais. Elas podem ser gerenciadas pelos homens de uma forma concreta e palpável mesmo usufruindo de uma liberdade burocrática, pois, mesmo de uma forma virtual, essas empresas são privadas e públicas ao mesmo tempo, ou seja, a sociedade participa do processo de desenvolvimento.
Em relação ao capitulo que aborda vários aspectos da virtualização do corpo, é possível perceber que o ser humano está modificando constantemente o seu corpo e muitas vezes o resultado não é o esperado e se frustra, muitas vezes até sendo ridicularizado pela sociedade que está inserida.
Um outro aspecto, é referente a um texto de um livro, artigo ou outros; nele podemos fazer as nossas críticas sem mudar o conteúdo do que está escrito, porém, podemos expor e sugerir nossas idéias. Com relação ao hipertexto pode ser mudado o conteúdo, porque nos dá essa liberdade através das conexões com outros documentos.
Realmente, com relação a virtualização econômica, concordo com o autor Pierre Levy quando ele diz que o setor mundial de negócio é o turismo. Atualmente, os brasileiros estão viajando muito, principalmente ao exterior onde alguns países tem sido moeda acessível a nós para a compra.
Uma outra questão interessante é o mercado online que a cada dia, está sendo mais aceito pelo ser humano. Todas as necessidades podem ser potencializados quando é encontrada no virtual à partir do momento que temos possibilidades financeiras.
Na linguagem, as pessoas podem deslocar-se para qualquer tempo, dialogando com pessoas de gerações antigas ou novas, a linguagem sempre tenta se adequar com o tempo presente. Um exemplo interessante, é o dialogo de pessoas em um chat (virtual) e presencial, como a linguagem é entendida. Um exemplo, é como se usa alguns símbolos ou sinais, como bj( que significa beijos), bye ( que é uma palavra americana e quer dizer adeus) e outros tipos de linguagem que podem ser entendidas por todos, entretanto a técnica é a maneira de como nos portamos em nossa realidade, seja em qualquer aspecto de nossa vida.
Convém porém, estar ciente que o contrato envolve as nossas relações sociais diante dos nossos valores adquiridos na família ou religião e dos nossos comportamentos na sociedade que somos inseridos.
O que podemos perceber, é que certas religiões tem normas rígidas, que influenciam o seu comportamento e ainda não aceitam o contato virtual.
Concluímos que, o virtual constantemente está em nossa realidade e sempre vamos nos deparar com o mesmo.
INDICAÇOES DA RESENHISTA
A obra tem por objetivo discutir a definição do que seja o virtual em vários aspectos. São para todos os níveis de estudantes que gostam de tecnologia, de informática, pois vai refletir positivamente, que o virtual pode ser concretizado dependendo do interesse de cada um de nós.
Maria Valéria Motta de Oliveira é Pedagoga, especialista em pedagogia organizacional e desenvolvimento de recursos humanos. Atuo no momento como professora na rede municipal de Salvador e faço especialização de tecnologia e novas educações na Faculdade de Educação na Universidade Federal da Bahia.
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